segunda-feira, 26 de outubro de 2009

De Mãe Preta à Mãe Preta

MÃE- Mulher ou qualquer fêmea que deu a luz a um ou mais filhos. ( Discordo do Aurélio)
Mãe é amor, mãe é quem cria, mãe é sabedoria, mãe é afeto, mãe é cuidado, mãe é proteção, mãe é mãe e nunca vai deixar de ser mãe...mãe não é só a que dá a luz, mas sim que dá a vida...

E hoje passei a manhã tda pesquisando sobre a vida das mulheres negras, em especial a vida de dona Maria Davina Rodrigues de Oliveira. Na verdade a a profª Elisabete Pinto me fez um desafio: escrever sobre Mãe Preta...de uma maneira que eu a convencesse sobre o nome do nosso Centro Acadêmico de Serviço Social, ser Mãe Preta. Já que ela acha que a forma que fora explicada tende a uma visão positivista e eu discordo!
Bom se pararmos para pensar nas nossas aulas de história na época de colégio, lembraremos com certeza de como as negras eram tratadas pelos seus senhores e senhoras, da exploração sexual a castigos perversos. Mulheres estas que alimentavam os filhos do "senhô" e que estes em sua maioria quando cresciam batiam nestas mulheres, uns monstros... Mulheres que resistiam a escravidão cometendo o infanticídio, o aborto voluntário para que a escravidão não atingisse os seus descendentes e temos que concordar que naquele momento não poderia existir melhor prova de amor de uma mãe para um filho.
Depois de promulgada a Lei do Ventre Livre e do Sexagenário ( 2 farsas) As mulheres que pariam iam abandonar seus filhos? Não os pequenos continuariam com as mães na condição de escravo e o Estado não promoveu nenhuma política social para contemplar estas crianças e a Lei do Sexagenário...está conseguiu ser mais ridícula ainda, que escravo conseguiria chegar aos 60 anos com as condições de vida tão precárias? A sociedade é muito hipócrita mesmo!
E hoje se comemora o dia de Mãe Preta no dia 28 de setembro, a mesma data que as leis citadas foram promulgadas. Seria melhor que não comemorasse, mas que se refletisse o descaso do Estado com os negros. Enfim...
Após a abolição da escravatura pela bondosa e generosa Princesa Isabel ( Tô satirizando) qual expectativa de vida e ascensão que estes negros "libertos" teriam?? Só se fosse liberdade de consumo, que a tão querida Inglaterra propusera naquele momento do advento do capitalismo! Chega a ser uma coisa patética, como se deu a construção de um país que abre a boca para dizer que não é racista e que no Brasil não existe preconceito!
os negros sempre foram rechaçados. Os que estavam na senzala hoje se encontram na favela! Vivendo à margem, sendo perseguidos, excluídos socialmente e economicamente. A negra que era a Mãe Preta hoje é a empregada doméstica, a mulata que era a boa de cama hoje é a mulher que se encontra em vulnerabilidade sexual , para não falar PUTA, puta mesmo...pq a loira a branca é garota de programa, estas fazem vida para conservar o padrão burguês e já a preta pobre da favela a puta como dizem vende seu corpo em troca de um prato de feijão para seu filho não morrer de fome! Já que o aborto não é legalizado estas mulheres morrem muito mais que as outras, o direito a escolha de ser mãe é tolhida pela hipocrisia do Estado juntamente com a Igreja Católica, afinal o Estado é laico ou não??
É uma questão de saúde pública! Já as que podem pagar vão para clinicas carissimas e as que não podem morrem de infecção e aí a mortalidade aumenta...e o comércio do Sintotec só faz aumentar, pq pessoas aproveitadoras comercializam por preços exorbitantes e ilegalmente e o Estado nada faz! A morte por aborto é maior nas mulheres negras e pobres.
Não é somente a saúde que é precária não, a educação também! Mulheres negras ainda continuam ganhando menos, na verdade a metade do salário de um homem branco. O ingresso de negros na Universidade nas décadas passadas era mínimo, principalmente em cursos de elite assim como Medicina e Direito ( Que hoje ainda são poucos que entram) ...
A situação do negro no país da miscigenação, da malandragem e do samba sempre foi desvalorizada e pouco importante. Só não esqueçamos que foram eles que ergueram os pilares do Brasil!
E porque digo: De Mãe Preta á Mãe Preta? Primeiro querendo fazer uma analogia à todas as mulheres negras que sofreram e que ainda sofrem com o preconceito e com a discriminação tanto por ser mulher quanto por ser negra. E aí tem Dona Davina Rodrigues que é um exemplo de garra e determinação quando ela diz: " Só vou deixar de ser Mãe Preta quando eu morrer..." Ela nasceu em 1924, em Andaraí cidade localizada na Chapada Diamantina-Ba, foi violentada sexualmente aos 15 anos e fugiu de casa, com medo de seu pai, pois na época as moças que eram "desonradas" eram postas para fora e para não dar o desgosto ao pai resolveu fugir e pegou carona com caminhoneiros até chegar à Salvador, ela queria ser empregada doméstica, até que um dia um mulher á encontrou debaixo da sacada de uma loja na Baixa dos Sapateiros e a chamou para "fazer vida" ela não teve outra opção. Teve 25 filhos, cada um de um pai diferente. Quando D. Maria chegou aos 40 anos aproximadamente refletiu e viu que não dava mais para continuar sua profissão e aí ela abriu o abrigo Mãe Preta, onde abriga crianças, jovens e adultos em situação de rua. Ela diz que Irmã Dulce, Dom Lucas e Jorge Amado ajudava, hoje a Cantina da Lua, e a Igreja da Piedade e um Centro Espirita da Pituba ajuda, ela diz que qualquer ajuda é bem vinda.
Hoje com aproximadamente 90 anos, ela tem muitos sonhos realizados e a serem realizados, a exemplo de um lugar melhor para abrigas seus "filhos", mas a burocracia do Estado não coopera e outro sonho é ver a Banda Axé Mãe Preta ser conhecida, uma banda composta por 20 abrigados.

Como não homenagear uma pessoa dessa? Uma mulher de garra de luta, que até hoje sonha e luta com a melhoria de vida para o seu povo? Uma ex prostituta da Ladeira da Montanha, que vendeu sua carne, como ela mesma diz, para sustentar seus filhos.

Mãe Preta, Dona Davina aonde quer que vá será lembrada pelo seu gesto de amor à vida, pela sua trajetória, pela sua determinação e força de vontade. Em uma sociedade indiviualista, preconceituosa falta muitas Mães em especial Pretas.

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